GAMIFICAÇÃO NO TRABALHO: O NOVO “AVATAR” DO DIREITO DO TRABALHO
DOI:
https://doi.org/10.26843/relacoessociaistrabalhista.v7i2.373Palavras-chave:
GAMIFICATION, BEHAVIORAL SCIENCES, DIGITAL PLATFORMS, LABOR LAWResumo
O artigo propõe uma reflexão sobre os efeitos da gamificação na organização do trabalho de plataformas digitais de transportes urbanos (motoristas) e entregadores (ciclistas), à luz do Direito do Trabalho, das Neurociências, Neuromarketing, da Sociologia, Psicologia e da Psicodinâmica do Trabalho. A título introdutório, será apresentada a noção de gamificação e sua implementação no mundo do trabalho. Na primeira parte, serão apresentados seus aspectos positivos e negativos. Na segunda parte, serão examinados os efeitos da gamificação do ponto de vista do Direito do Trabalho, particularmente, à luz da Constituição Federal. A gamificação, utilizando as ciências comportamentais, pode contribuir para o aumento da carga de trabalho configurando, assim, um risco psicossocial com possíveis repercussões sobre o direito à saúde e segurança no trabalho, repouso, lazer e à vida privada do trabalhador. Enfim, propõe-se uma reflexão sobre a gamificação que parece se inserir num projeto de sociedade.
Referências
ABÍLIO, Ludmila. C. Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado. Psicoperspectivas, v.1, n. 3, p.1-11, 2019.
___________. Plataformas digitais e uberização: Globalização de um Sul administrado? Contracampo, v.39, n.1, p.12-26, 2020.
ABT, Clark. Serious Games. Penguin Publishing Group, 1971.
BAERTSCHI, Bernard. L’éthique à l’écoute des neurosciences. Les Belles lettres, coll. Médecine & sciences humaines, 2013.
BÉRASTÉGUI, Pierre. Exposure to psychosocial risk factors in the gig economy: a systematic review. ETUI, 2021.
BONENFANT, Maude ; PHILIPPETTE, Thibault. Rhétorique de l’engagement ludique dans des dispositifs de ludification. Sciences du jeu, n. 10, 2018. Disponível em: http://journals.openedition.org/sdj/1422. Acesso em : 20 mai. 2021
COX Tom; GRIFFITHS Amanda. Monitoring the changing organization of work: a commentary. Social and Preventive Medicine, v. 48, n. 6, p. 354-355, 2003.
DAL ROSSO, Sadi. Jornada de trabalho: duração e intensidade. Cienc. Cult., São Paulo , v. 58, n. 4, p. 31-34, 2006.
DE STEFANO V.; ALOISI A., European Legal framework for digital labour platforms. European Commission, Luxembourg, 2018. Disponível em : https://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/handle/JRC112243. Acesso em: 1 jun.2021.
____________. Essential jobs, remote work and digital surveillance: addressing the COVID-19
pandemic panopticon. International Labour Review. 2021. Disponível em : https://doi.org/10.1111/ilr.12219. Acesso em : 3 jul. 2021.
DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. 2ª ed.. São Paulo: LTr, 2015.
____________ ; CARVALHO, Bruna V. Breque dos Apps: direito de resistência na era digital. Le Monde Diplomatique. 27/07/2020. Disponível em https://diplomatique.org.br/breque-dos-apps-direito-de-resistencia-na-era-digital/. Acesso em : 1 jun. 2021.
____________; DELGADO, Maurício Godinho. A Proteção e a inclusão da pessoa humana trabalhador e do trabalho no Brasil República: fluxos e refluxos. Revista Jurídica, Curitiba, v. 4, n. 57, p. 538- 583, 2019.
____________. A OIT e sua missão de Justiça Social. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 13, n. 2, p.424-448, jul./dez.2019.
____________. Constituição da República e direitos fundamentais: dignidade da pessoa humana, justiça social e direito do trabalho. 3a ed. São Paulo: LTr, 2015.
DEJOURS, Christophe. La Sublimation : entre clinique du travail et psychanalyse. Revue française de psychosomatique, v.2, n. 46, p. 21-37, 2014.
____________. Souffrances en France. La banalisation de l’injustice sociale. 2e éd., Paris, Seuil, 2009.
____________. La psychodynamique du travail face à l'évaluation : de la critique à la proposition. Travailler, v. 25, n° 1, p. 15-27, 2011.
____________ ; GERNET, Isabelle. Évaluation du travail et reconnaissance. Nouvelle revue de psychosociologie, v. 8, n. 2, p. 27-36, 2009.
____________ ; GERNET, Isabelle. Psychopathologie du travail. 2e éd., Elsevier Masson, 2016.
DEMAEGDT, Christophe. Le plaisir au travail et la sublimation à la lumière de la psychodynamique du travail . Le Carnet PSY, v. 8, n. 193, p. 22-26, 2015.
DETERDING, Sebastian et al. From game design elements to gamefulness: Defining gamification. Proceedings of the 15th International Academic MindTrek Conference: Envisioning Future Media Environments, p. 9-15, 2011.
____________. The ambiguity of games: histories and discourses of a gameful world. In: WALZ, Stephen P. e DETERDING, Sebastian (org.). The Gameful World: Approaches, Issues, Applications, Cambridge, MIT Press, p. 23-64, 2015.
____________e al. Du game design au gamefulness : définir la gamification. Sciences du jeu, n.2, 2014. Disponível em : http://journals.openedition.org/sdj/287. Acesso em: 7 jun. 2021.
DIAS, Valéria. de O. O Conteúdo Essencial do Direito Fundamental à Integridade Psíquica no Meio Ambiente de Trabalho na perspectiva do Assédio Moral Organizacional. Journal of Law and Regulation, v. 1, n. 1, p. 117-142, 2015. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rdsr/article/view/19319. Acesso em: 7 nov. 2021
DUTRA, Renata Queiroz. Direitos sociais em tempos de neoliberais: a Constituição de 1988 e a crise permanente. Revista dos estudantes de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, n. 15, p.34-58, 2019.
____________e SEPÚLVEDA, Gabriela. O trabalho nos aplicativos de entrega de mercadorias: a desconstrução do sujeito de direitos trabalhistas. Revista Estudos Institucionais, v. 6, n. 3, p. 1230-1252, set./dez. 2020.
FRANCO, Tânia; DRUCK, Graça; SELIGMANN-SILVA, Edith. As novas relações de trabalho, o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 35, n. 122, p. 229-248, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0303-76572010000200006. Acesso em: 28 out. 2021.
GAURIAU, Rosane. Saúde e Segurança no trabalho de entregadores de plataformas digitais enquanto trabalhadores: um olhar para além da natureza do vínculo. In : MANNRICH, Nelson (org.). Relações de Trabalho e Desafios da Tecnologia em um Ambiente Pós-Pandemia. São Paulo: Editora Mizuno, 2021, p 442-460.
GROHMANN, Rafael; QIU, Jack . Contextualizando o Trabalho em Plataformas. Contracampo. Editorial v. 39 n. 1, 2020. Disponível https://periodicos.uff.br/contracampo/article/download/42260/23968/140904. Acesso em: 25 out. 2021.
HAMARI, Juho. HASSAN, Lobna; DIAS, Antônio. Gamification, quantified-self or social networking? Matching users’ goals with motivational technology. User Modeling and User-Adapted Interaction. 2018. Disponível em : DOI:10.1007/s11257-018-9200-2. Acesso em: 28 out. 2021.
HAMMEDIA, Wafa; LECLERCQBC, Thomas; PONCIND, Ingrid; ALKIRE , Linda. Uncovering the dark side of gamification at work: Impacts on engagement and well-being. Journal of Business Research, v. 122, p.256-269, jan. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2020.08.032. Acesso em: 14 nov. 2021.
HENDRICKX, Frank; DE STEFANO, Valerio. Game changers in labour law: shaping the future of work. Bullettin of Comparative Labour Relations, n° 100. Alphen aan den Rijn: Kluwer Law International, 2018.
JEANTET, Aurélie. Les émotions au travail. CNRS, 2021.
KIDDER, J. L. It’s the Job That I Love: Bike Messengers and Edgework, Sociological Forum, v. 2, n.1, p 31-54, 2006.
KEMMELMEIER, Carolina Spack. Direito à saúde e o debate sobre os riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, SP, v. 44, n. 186, p. 89-113, fev. 2018. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/136331. Acesso em: 9 out. 2021.
LE LAY, Stéphane. Destins du jouer et du travail à l’ère du management distractif. Sociologie. Université Aix-Marseille, 2020. HAL Id :tel-03014007, version 1.
_______________; SAVIGNAC, Emmanuelle; LÉNEL, Pierre; FRANCES, Jean. Vers un régime du jeu ? London: Iste, 2021.
____________ ; LEMOZY, Fabien. Les plateformes : c’est la victoire du travail mort sur le travail vivant. Entretien. Humanités, n. 773. p. 62-64, 2021.
____________. Le rapport subjectif au travail dirigé par les algorithmes. Être livré à soi-même sur une plateforme capitaliste. Mouvements, v.2, n° 106, p. 99-107, 2021.
LEME, Ana Carolina Reis Paes. Neuromarketing e sedução dos trabalhadores: o caso Uber. In: CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CAVALCANTI, Tiago Muniz; FONSECA, Vanessa Patriota da. Brasília (org.) Futuro do trabalho: os efeitos da revolução digital na sociedade: ESMPU, 2020, p. 139-155.
LEMOS, Maria Cecilia de Almeida Monteiro. Trabalho e Neoliberalismo: os paradoxos revelados pelo coronavírus. Revista de Direito do Trabalho, v. 214, p. 215-232, nov./dez.2020.
____________. O dano existencial nas relações de trabalho intermitentes: reflexões na perspectiva do direito fundamental ao trabalho digno. 2018. 315p. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
LEROUGE, Loïc. Les risques psychosociaux au travail reconnus par le droit : le couple dignité-santé. In: LEROUGE, Loïc (Dir.). Risques psychosociaux au travail. Paris : L’Harmatan, 2009.
____________; FELIO, Cindy Felio. Les cadres face aux TIC : quels risques psychosociaux au travail ? Angles Droit, 2013. Disponível em http://anglesdroit.hypotheses.org/1528. Acesso em: 9 out. 2021.
LISSAK, Gadi. Adverse physiological and psychological effects of screen time on children and adolescents: Literature review and case study. Environmental research, v. 164, p. 149-157, 2018. Disponível em : doi:10.1016/j.envres.2018.01.015. Acesso em: 9 out. 2021.
LUDOVICO, Giuseppe. Reflexos psicossociais das transformações do trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, MG, v. 60, n. 91, p. 283-310, jan./jun. 2015.
MACHADO, P; DESRUMAUX, E. Dose,. L’addiction au travail : quels effets de la charge de travail, de la dissonance émotionnelle et du surinvestissement ? Pratiques psychologiques, vol. 21, n. 2, p. 105-120, 2015.
MASON, Sarah. Chasing the Pink. 2019. Disponível em: https://logicmag.io/play/chasing-the-pink/. Acesso em: 5 mai. 2021.
MASSON, Letícia Pessoa; CHRISTO, Cirlene de Souza . Gerenciamento, consumo e (des)valor do trabalho por aplicativos: implicações à saúde de entregadores https://revistarosa.com/4/desvalor-do-trabalho-por-aplicativos. Acesso em: 9 out. 2021.
MAUCO, Olivier. Sur la Gamification. 2012. Disponível em : http://www.gameinsociety.com/post/2012/01/19/Sur-lagamification. Acesso em : 20 mai. 2021.
MONTVALON, Luc de. La charge de travail. Pour une approche renouvelée du droit de la santé au travail. LGJD, 2021.
OLIVEIRA, Renata Couto de. Gamificação e trabalho uberizado nas empresas-aplicativo. Rev. adm. empres. n. 61, v.4, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-759020210407 Acesso em: 31 out. 2021.
PHARABOD, Anne-Sylvie; NIKOLSKI, Véra; GRANJON, Fabien. La mise en chiffres de soi. Une approche compréhensive des mesures personnelles. Réseaux, v. 177, n. 1, p. 97-129, 2013.
PRODNIK, J. Algorithmic Logic in Digital Capitalism. In: VERDEGEM, P. AI for Everyone?. London: University of Westminster Press. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.16997/book55.l. Acesso em : 26 jun. 2021.
RAVELLI, Quentin. L’ascension du jeu au travail : The Gamification of Work, en théories et en pratiques. Travailler, v. 39, n. 1, p. 155-160, 2018.
RICHERT. Fabien. Le No Interface et la surveillance liquide. Interfaces Numériques, v. 5, n. 2, 2016. Disponível em: https://www.unilim.fr/interfaces-numeriques/3065.Acesso em: 17 out. 2021.
SANTOS, Michel Carlos Rocha; MIRANDA, Michelly Cardoso. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais: a proteção à intimidade e vida privada no teletrabalho em face da era virtual. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, SP, v. 43, n. 175, p. 95-115, mar. 2017.
SARACENO, Marco. Mesure et valorisation du travail du corps dans le capitalisme de plateforme. Journal des anthropologues, n. 158-159, p.79-102.
SAVIGNAC, Emmanuelle. La gamification du travail. L'ordre du jeu. Londres : ISTE, coll. « Innovation, entrepreneuriat et gestion », 2017.
____________. La créativité en question dans les jeux de rôles en entreprise. Communication, v. 36, n.1, 2019. Disponível em: http://journals.openedition.org/communication/10151 . Acesso em : 20 mai. 2021.
SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. Trabalho e saúde mental na visão da OIT. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, v. 51, n. 81, p. 489-526, jan./jun. 2010.
SILVA, Haydée. La « gamification » de la vie : sous couleur de jouer? Sciences du jeu, n.1, 2013. Disponível em : http://journals.openedition.org/ sdj/261. Acesso em: 20 mai. 2021.
SIQUEIRA, Vitor da Costa Honorato de; FRANCISCHETTO, Gilsilene Passon Picoretti. Direito fundamental ao meio ambiente de trabalho digno: medidas de desinvisibilização do trabalhador . Revista de Direito do Trabalho e Seguridade Social, São Paulo, SP, v. 46, n. 211, p. 269-284, maio/jun. 2020. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/173197. Acesso em: 9 out. 2021.
TAQUET, Pierre. Les motivations dans l’usage pathologique des jeux vidéo : théories et thérapie. Terminal (Us et abus de l'Internet), n° 119, 2016. Disponível em http://journals.openedition.org/terminal/1542. Acesso em: 7 jun. 2021.
TRICLOT, Mathieu. Game studies ou études du play ?.Sciences du jeu, n.1, 2013. Disponível em: http://journals.openedition.org/sdj/223. Acesso em: 24 ago. 2021.
VIDIGAL, Viviane. Game Over: a gestão gamificada do trabalho. MovimentAção,, v. 8, n. 14, p. 44-64, ago. 2021. ISSN 2358-9205. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/movimentacao/article/view/15018. Acesso em: 31 out. 2021.
WOODCOCK, Jamie; JOHNSON, Mark. Gamification: What it is, and how to fight it. The Sociological Review, v. 66, n. 3, p. 542-558, 2017.. Disponível em: http://eprints.lse.ac.uk/86373/ Acesso em: 25 out. 2021.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Rosane Gauriau

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.