GAMIFICAÇÃO NO TRABALHO: O NOVO “AVATAR” DO DIREITO DO TRABALHO

Autores

  • Rosane Gauriau UA CJB

DOI:

https://doi.org/10.26843/relacoessociaistrabalhista.v7i2.373

Palavras-chave:

GAMIFICATION, BEHAVIORAL SCIENCES, DIGITAL PLATFORMS, LABOR LAW

Resumo

O artigo propõe uma reflexão sobre os efeitos da gamificação na organização do trabalho de plataformas digitais de transportes urbanos (motoristas) e entregadores (ciclistas), à luz do Direito do Trabalho, das Neurociências, Neuromarketing, da Sociologia, Psicologia e da Psicodinâmica do Trabalho. A título introdutório, será apresentada a noção de gamificação e sua implementação no mundo do trabalho. Na  primeira parte, serão apresentados seus aspectos positivos e negativos. Na segunda parte, serão examinados os efeitos da gamificação do ponto de vista do Direito do Trabalho, particularmente, à luz da Constituição Federal. A gamificação, utilizando as ciências comportamentais, pode contribuir para o aumento da carga de trabalho configurando, assim, um risco psicossocial com possíveis repercussões sobre o direito à saúde e segurança no trabalho, repouso, lazer e à vida privada do trabalhador. Enfim,  propõe-se uma reflexão sobre a gamificação que parece se inserir num projeto de sociedade.

 

Biografia do Autor

Rosane Gauriau, UA CJB

Pesquisadora, Jurista. Doutora em Direito (summa cum laude) pela Université Paris 1- Sorbonne. Mestre em Droit des Entreprises, Université d’Angers. Membre associée do Centre Jean Bodin, Recherche Juridique et Politique, Université d’Angers. Membro do Institut de Psychodynamique du travail, Paris. Membro do Institut de Recherche Juridique de la Sorbonne, Paris. E-mail: profrgauriau@gmail.com

Referências

ABÍLIO, Ludmila. C. Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado. Psicoperspectivas, v.1, n. 3, p.1-11, 2019.

___________. Plataformas digitais e uberização: Globalização de um Sul administrado? Contracampo, v.39, n.1, p.12-26, 2020.

ABT, Clark. Serious Games. Penguin Publishing Group, 1971.

BAERTSCHI, Bernard. L’éthique à l’écoute des neurosciences. Les Belles lettres, coll. Médecine & sciences humaines, 2013.

BÉRASTÉGUI, Pierre. Exposure to psychosocial risk factors in the gig economy: a systematic review. ETUI, 2021.

BONENFANT, Maude ; PHILIPPETTE, Thibault. Rhétorique de l’engagement ludique dans des dispositifs de ludification. Sciences du jeu, n. 10, 2018. Disponível em: http://journals.openedition.org/sdj/1422. Acesso em : 20 mai. 2021

COX Tom; GRIFFITHS Amanda. Monitoring the changing organization of work: a commentary. Social and Preventive Medicine, v. 48, n. 6, p. 354-355, 2003.

DAL ROSSO, Sadi. Jornada de trabalho: duração e intensidade. Cienc. Cult., São Paulo , v. 58, n. 4, p. 31-34, 2006.

DE STEFANO V.; ALOISI A., European Legal framework for digital labour platforms. European Commission, Luxembourg, 2018. Disponível em : https://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/handle/JRC112243. Acesso em: 1 jun.2021.

____________. Essential jobs, remote work and digital surveillance: addressing the COVID-19

pandemic panopticon. International Labour Review. 2021. Disponível em : https://doi.org/10.1111/ilr.12219. Acesso em : 3 jul. 2021.

DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. 2ª ed.. São Paulo: LTr, 2015.

____________ ; CARVALHO, Bruna V. Breque dos Apps: direito de resistência na era digital. Le Monde Diplomatique. 27/07/2020. Disponível em https://diplomatique.org.br/breque-dos-apps-direito-de-resistencia-na-era-digital/. Acesso em : 1 jun. 2021.

____________; DELGADO, Maurício Godinho. A Proteção e a inclusão da pessoa humana trabalhador e do trabalho no Brasil República: fluxos e refluxos. Revista Jurídica, Curitiba, v. 4, n. 57, p. 538- 583, 2019.

____________. A OIT e sua missão de Justiça Social. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 13, n. 2, p.424-448, jul./dez.2019.

____________. Constituição da República e direitos fundamentais: dignidade da pessoa humana, justiça social e direito do trabalho. 3a ed. São Paulo: LTr, 2015.

DEJOURS, Christophe. La Sublimation : entre clinique du travail et psychanalyse. Revue française de psychosomatique, v.2, n. 46, p. 21-37, 2014.

____________. Souffrances en France. La banalisation de l’injustice sociale. 2e éd., Paris, Seuil, 2009.

____________. La psychodynamique du travail face à l'évaluation : de la critique à la proposition. Travailler, v. 25, n° 1, p. 15-27, 2011.

____________ ; GERNET, Isabelle. Évaluation du travail et reconnaissance. Nouvelle revue de psychosociologie, v. 8, n. 2, p. 27-36, 2009.

____________ ; GERNET, Isabelle. Psychopathologie du travail. 2e éd., Elsevier Masson, 2016.

DEMAEGDT, Christophe. Le plaisir au travail et la sublimation à la lumière de la psychodynamique du travail . Le Carnet PSY, v. 8, n. 193, p. 22-26, 2015.

DETERDING, Sebastian et al. From game design elements to gamefulness: Defining gamification. Proceedings of the 15th International Academic MindTrek Conference: Envisioning Future Media Environments, p. 9-15, 2011.

____________. The ambiguity of games: histories and discourses of a gameful world. In: WALZ, Stephen P. e DETERDING, Sebastian (org.). The Gameful World: Approaches, Issues, Applications, Cambridge, MIT Press, p. 23-64, 2015.

____________e al. Du game design au gamefulness : définir la gamification. Sciences du jeu, n.2, 2014. Disponível em : http://journals.openedition.org/sdj/287. Acesso em: 7 jun. 2021.

DIAS, Valéria. de O. O Conteúdo Essencial do Direito Fundamental à Integridade Psíquica no Meio Ambiente de Trabalho na perspectiva do Assédio Moral Organizacional. Journal of Law and Regulation, v. 1, n. 1, p. 117-142, 2015. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rdsr/article/view/19319. Acesso em: 7 nov. 2021

DUTRA, Renata Queiroz. Direitos sociais em tempos de neoliberais: a Constituição de 1988 e a crise permanente. Revista dos estudantes de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, n. 15, p.34-58, 2019.

____________e SEPÚLVEDA, Gabriela. O trabalho nos aplicativos de entrega de mercadorias: a desconstrução do sujeito de direitos trabalhistas. Revista Estudos Institucionais, v. 6, n. 3, p. 1230-1252, set./dez. 2020.

FRANCO, Tânia; DRUCK, Graça; SELIGMANN-SILVA, Edith. As novas relações de trabalho, o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 35, n. 122, p. 229-248, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0303-76572010000200006. Acesso em: 28 out. 2021.

GAURIAU, Rosane. Saúde e Segurança no trabalho de entregadores de plataformas digitais enquanto trabalhadores: um olhar para além da natureza do vínculo. In : MANNRICH, Nelson (org.). Relações de Trabalho e Desafios da Tecnologia em um Ambiente Pós-Pandemia. São Paulo: Editora Mizuno, 2021, p 442-460.

GROHMANN, Rafael; QIU, Jack . Contextualizando o Trabalho em Plataformas. Contracampo. Editorial v. 39 n. 1, 2020. Disponível https://periodicos.uff.br/contracampo/article/download/42260/23968/140904. Acesso em: 25 out. 2021.

HAMARI, Juho. HASSAN, Lobna; DIAS, Antônio. Gamification, quantified-self or social networking? Matching users’ goals with motivational technology. User Modeling and User-Adapted Interaction. 2018. Disponível em : DOI:10.1007/s11257-018-9200-2. Acesso em: 28 out. 2021.

HAMMEDIA, Wafa; LECLERCQBC, Thomas; PONCIND, Ingrid; ALKIRE , Linda. Uncovering the dark side of gamification at work: Impacts on engagement and well-being. Journal of Business Research, v. 122, p.256-269, jan. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2020.08.032. Acesso em: 14 nov. 2021.

HENDRICKX, Frank; DE STEFANO, Valerio. Game changers in labour law: shaping the future of work. Bullettin of Comparative Labour Relations, n° 100. Alphen aan den Rijn: Kluwer Law International, 2018.

JEANTET, Aurélie. Les émotions au travail. CNRS, 2021.

KIDDER, J. L. It’s the Job That I Love: Bike Messengers and Edgework, Sociological Forum, v. 2, n.1, p 31-54, 2006.

KEMMELMEIER, Carolina Spack. Direito à saúde e o debate sobre os riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, SP, v. 44, n. 186, p. 89-113, fev. 2018. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/136331. Acesso em: 9 out. 2021.

LE LAY, Stéphane. Destins du jouer et du travail à l’ère du management distractif. Sociologie. Université Aix-Marseille, 2020. HAL Id :tel-03014007, version 1.

_______________; SAVIGNAC, Emmanuelle; LÉNEL, Pierre; FRANCES, Jean. Vers un régime du jeu ? London: Iste, 2021.

____________ ; LEMOZY, Fabien. Les plateformes : c’est la victoire du travail mort sur le travail vivant. Entretien. Humanités, n. 773. p. 62-64, 2021.

____________. Le rapport subjectif au travail dirigé par les algorithmes. Être livré à soi-même sur une plateforme capitaliste. Mouvements, v.2, n° 106, p. 99-107, 2021.

LEME, Ana Carolina Reis Paes. Neuromarketing e sedução dos trabalhadores: o caso Uber. In: CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CAVALCANTI, Tiago Muniz; FONSECA, Vanessa Patriota da. Brasília (org.) Futuro do trabalho: os efeitos da revolução digital na sociedade: ESMPU, 2020, p. 139-155.

LEMOS, Maria Cecilia de Almeida Monteiro. Trabalho e Neoliberalismo: os paradoxos revelados pelo coronavírus. Revista de Direito do Trabalho, v. 214, p. 215-232, nov./dez.2020.

____________. O dano existencial nas relações de trabalho intermitentes: reflexões na perspectiva do direito fundamental ao trabalho digno. 2018. 315p. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

LEROUGE, Loïc. Les risques psychosociaux au travail reconnus par le droit : le couple dignité-santé. In: LEROUGE, Loïc (Dir.). Risques psychosociaux au travail. Paris : L’Harmatan, 2009.

____________; FELIO, Cindy Felio. Les cadres face aux TIC : quels risques psychosociaux au travail ? Angles Droit, 2013. Disponível em http://anglesdroit.hypotheses.org/1528. Acesso em: 9 out. 2021.

LISSAK, Gadi. Adverse physiological and psychological effects of screen time on children and adolescents: Literature review and case study. Environmental research, v. 164, p. 149-157, 2018. Disponível em : doi:10.1016/j.envres.2018.01.015. Acesso em: 9 out. 2021.

LUDOVICO, Giuseppe. Reflexos psicossociais das transformações do trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, MG, v. 60, n. 91, p. 283-310, jan./jun. 2015.

MACHADO, P; DESRUMAUX, E. Dose,. L’addiction au travail : quels effets de la charge de travail, de la dissonance émotionnelle et du surinvestissement ? Pratiques psychologiques, vol. 21, n. 2, p. 105-120, 2015.

MASON, Sarah. Chasing the Pink. 2019. Disponível em: https://logicmag.io/play/chasing-the-pink/. Acesso em: 5 mai. 2021.

MASSON, Letícia Pessoa; CHRISTO, Cirlene de Souza . Gerenciamento, consumo e (des)valor do trabalho por aplicativos: implicações à saúde de entregadores https://revistarosa.com/4/desvalor-do-trabalho-por-aplicativos. Acesso em: 9 out. 2021.

MAUCO, Olivier. Sur la Gamification. 2012. Disponível em : http://www.gameinsociety.com/post/2012/01/19/Sur-lagamification. Acesso em : 20 mai. 2021.

MONTVALON, Luc de. La charge de travail. Pour une approche renouvelée du droit de la santé au travail. LGJD, 2021.

OLIVEIRA, Renata Couto de. Gamificação e trabalho uberizado nas empresas-aplicativo. Rev. adm. empres. n. 61, v.4, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-759020210407 Acesso em: 31 out. 2021.

PHARABOD, Anne-Sylvie; NIKOLSKI, Véra; GRANJON, Fabien. La mise en chiffres de soi. Une approche compréhensive des mesures personnelles. Réseaux, v. 177, n. 1, p. 97-129, 2013.

PRODNIK, J. Algorithmic Logic in Digital Capitalism. In: VERDEGEM, P. AI for Everyone?. London: University of Westminster Press. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.16997/book55.l. Acesso em : 26 jun. 2021.

RAVELLI, Quentin. L’ascension du jeu au travail : The Gamification of Work, en théories et en pratiques. Travailler, v. 39, n. 1, p. 155-160, 2018.

RICHERT. Fabien. Le No Interface et la surveillance liquide. Interfaces Numériques, v. 5, n. 2, 2016. Disponível em: https://www.unilim.fr/interfaces-numeriques/3065.Acesso em: 17 out. 2021.

SANTOS, Michel Carlos Rocha; MIRANDA, Michelly Cardoso. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais: a proteção à intimidade e vida privada no teletrabalho em face da era virtual. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, SP, v. 43, n. 175, p. 95-115, mar. 2017.

SARACENO, Marco. Mesure et valorisation du travail du corps dans le capitalisme de plateforme. Journal des anthropologues, n. 158-159, p.79-102.

SAVIGNAC, Emmanuelle. La gamification du travail. L'ordre du jeu. Londres : ISTE, coll. « Innovation, entrepreneuriat et gestion », 2017.

____________. La créativité en question dans les jeux de rôles en entreprise. Communication, v. 36, n.1, 2019. Disponível em: http://journals.openedition.org/communication/10151 . Acesso em : 20 mai. 2021.

SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. Trabalho e saúde mental na visão da OIT. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, v. 51, n. 81, p. 489-526, jan./jun. 2010.

SILVA, Haydée. La « gamification » de la vie : sous couleur de jouer? Sciences du jeu, n.1, 2013. Disponível em : http://journals.openedition.org/ sdj/261. Acesso em: 20 mai. 2021.

SIQUEIRA, Vitor da Costa Honorato de; FRANCISCHETTO, Gilsilene Passon Picoretti. Direito fundamental ao meio ambiente de trabalho digno: medidas de desinvisibilização do trabalhador . Revista de Direito do Trabalho e Seguridade Social, São Paulo, SP, v. 46, n. 211, p. 269-284, maio/jun. 2020. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/173197. Acesso em: 9 out. 2021.

TAQUET, Pierre. Les motivations dans l’usage pathologique des jeux vidéo : théories et thérapie. Terminal (Us et abus de l'Internet), n° 119, 2016. Disponível em http://journals.openedition.org/terminal/1542. Acesso em: 7 jun. 2021.

TRICLOT, Mathieu. Game studies ou études du play ?.Sciences du jeu, n.1, 2013. Disponível em: http://journals.openedition.org/sdj/223. Acesso em: 24 ago. 2021.

VIDIGAL, Viviane. Game Over: a gestão gamificada do trabalho. MovimentAção,, v. 8, n. 14, p. 44-64, ago. 2021. ISSN 2358-9205. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/movimentacao/article/view/15018. Acesso em: 31 out. 2021.

WOODCOCK, Jamie; JOHNSON, Mark. Gamification: What it is, and how to fight it. The Sociological Review, v. 66, n. 3, p. 542-558, 2017.. Disponível em: http://eprints.lse.ac.uk/86373/ Acesso em: 25 out. 2021.

Downloads

Publicado

2021-12-20

Como Citar

Gauriau, R. (2021). GAMIFICAÇÃO NO TRABALHO: O NOVO “AVATAR” DO DIREITO DO TRABALHO. Revista Direito Das Relações Sociais E Trabalhistas, 7(2), 42–71. https://doi.org/10.26843/relacoessociaistrabalhista.v7i2.373